segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Agricultura: Camponeses esperançosos em boa azágua.


Os agricultores de sequeiro dos diversos pontos do arquipélago já lançaram as sementes à terra, confiantes numa boa colheita. Chuvas abundantes e ausência de pragas são os principais desejos dos camponeses, que diariamente lançam mãos à enxada para mais uma campanha agrícola na esperança que este ano seja melhor do que o anterior.

De acordo com o agricultor Armando Silva, a campanha agrícola de sequeiro na região de Achada Falcão, Santa Catarina de Santiago, já arrancou na sua máxima força. Estima-se que mais de 90 por cento das parcelas de terras destinadas à agricultura de sequeiro, através da “sementeira em pó”, já foram cultivados. No entender daquele experiente camponês, os sinais do tempo apontam para um “bom ano” agrícola.

Uma expectativa reforçada por Celestino Fernandes, agricultor da Ribeira dos Engenhos, também em Santa Catarina, que nos conta que a sementeira está a decorrer de forma normal, à semelhança dos anos anteriores. “Até agora tudo está a decorrer bem porque temos sementes suficientes, fruto de uma produção razoável do ano anterior. Também não há registo de nenhum perigo eminente”.
Segundo este homem do campo, as perspectivas apontam que a chuva pode cair entre final de Julho e princípio de Agosto. Conforme Fernandes, a desconfiança no seio dos agricultores surge a partir do momento que a chuva cair de forma parcial, ou seja, “um lado sim e outro não”.
VANTAGENS DA SEMENTEIRA EM PÓ
De acordo com os agricultores, quando se faz a “sementeira em pó”, as sementes tendem a aquecer no solo e mal recebem as chuvas, durante a germinação, os constituintes ficam mais soltos e acabam por nascer mais depressa, ou seja, entre três e quatro dias. “As sementes lançadas ao solo depois das chuvas estão sujeitas à adaptação, o que torna o processo de germinação lento, normalmente uma semana para nascer”. E por outro lado, a mão-de-obra custa mais barata, sobretudo para as famílias com poucos membros.
Entretanto, os agricultores afirmam que a sementeira depois das chuvas é mais segura por correrem menos riscos de se estragar, uma vez que só é feita quando a terra já está bem molhada. Enquanto as feitas em terrenos secos, se por azar chover fraco, acabam por se estragar no que são obrigados a fazer uma nova sementeira.
PREVISÃO DE CHUVAS FAVORÁVEL
De acordo com a previsão sazonal avançado pelos Centro Africano de Aplicações Meteorológicas para o Desenvolvimento (ACMAD) e Centro Regional Agrhymet, os dados apontam para a probabilidade de ocorrência de precipitações normais ou ligeiramente superior a normal” no Sahel Ocidental, entre Julho e Setembro. No continente, de resto, chuva já começou a cair, nalguns casos, de forma abundante.
Estando Cabo Verde localizado no Sahel, o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG) congratula-se com essas previsões. O INMG alerta entretanto que estes dados, apesar de serem importantes, devem ser considerados apenas como indicadores. Até porque existe também a probabilidade de aparecimento em larga escala de outros factores adversos na região ocidental africana. E que caso isso venha a acontecer, há uma elevada probabilidade de a época das chuvas começar mais tarde em Cabo Verde.
PRAGAS
De acordo com os agricultores, em Santiago, os problemas que estão a enfrentar, nesta primeira fase da agricultura, são as invasões de macacos e galinhas do mato, “pelada”, que estão a retirar as sementes do solo, principalmente nas zonas mais montanhosas de Santa Catarina. Segundo os agricultores, por causa disso, nas zonas altas pouca gente faz hoje em dia sementeira já que não há crianças para ajudarem a afugentar esses bichos.
Por seu turno, os técnicos do MDR mostram-se de algum modo apreensivos com a possibilidade de surgimento e invasão de gafanhotos. Isto porque este ano, devido ao conflito que se regista no Mali, tido como o principal foco de eclosão de gafanhotos, não foi feita a necessária prospecção. Esta situação põe os técnicos de MDR em alerta.
De acordo com a ministra Eva Ortet, todas as delegações do seu ministério já estão equipadas com materiais de combate às pragas, especialmente a de gafanhotos, logo após as primeiras chuvas. No entanto, salienta que a época agrícola arrancou de forma tranquila. E tendo em vista que no ano anterior a produção foi razoável, nesta primeira fase, não houve problemas relacionadas com as sementes.
REGIÃO FOGO/BRAVA
Na ilha do Fogo, segundo informação recolhida junto da delegação de MDR, a campanha agrícola está a decorrer dentro da normalidade. Em algumas localidades das zonas altas, nomeadamente, Ponta Verde e Galinheiro, que registaram as primeiras chuvas nos dias 4 e 5 de Julho, os agricultores já estão a efectuar a primeira monda. No entanto, reina a preocupação relacionada com o atraso na queda de mais precipitações, para a sustentabilidade das plantas já germinadas.
Já na Brava, o delegado do MDR, Lenine Carvalho, garante que agricultura de sequeiro está a decorrer dentro da moralidade. Conforme diz, boa parte dos camponeses já fez as sementeiras em pó e os restantes estão a esperar pela queda das chuvas.
Enquanto isso, para uma melhor preparação dos agricultores, o MDR na ilha das flores efectuou uma acção de formação e capacitação sobre o impacto do tempo e do clima na agricultura destinada aos camponeses e técnicos de MDR. Trinta e dois agricultores e criadores de gado participaram na formação ministrada por João Spencer, técnico de meteorologia agrícola, que alertou os camponeses sobres os efeitos do clima e a sua variação no tempo e no espaço e a sua influência na produção agrícola.
Neste sentido, no caso da Brava em concreto, João Spencer aconselha os agricultores a darem uma especial atenção na selecção e escolha de espaço adequado para o tipo de cultivo que se querem efectuar. “Em Cabo Verde, sobretudo na agricultura de sequeiro, os agricultores continuam a semear milho e feijões misturados, quando isso nem sempre dá bons resultados”.
E no caso da Brava, acrescenta, por ser uma ilha com um clima bastante húmido, com pouca insolação e com muita nebulosidade, não é conveniente a cultura do milho em certas regiões, nomeadamente na zona de Cova e Mato, por exemplo, onde há um excesso de humidade e pouca luminosidade, o que influencia negativamente na produção de milho.
Em alternativa, João Spencer aconselha a introdução nessas zonas de plantas fruteiras, batatas, tomate e outros produtos que se mostram mais adaptados ao clima da Brava, deixando o cultivo de milho e feijão para zonas mais baixas.
SANTO ANTÃO
De acordo com o delegado do MDR, em Santo Antão, Osvaldo Maurício, à semelhança dos outros pontos do país, a primeira vaga de sementeira de sequeiro na ilha das montanhas decorreu dentro da normalidade. “Os agricultores agora estão à espera pela queda das chuvas para arrancarem com as mondas”, disse.
Conforme esee responsável, até agora a delegação do MDR na ilha não registou nenhum pedido apoio com sementes. No entanto, Maurício assegura que a delegação local está preparada responder a qualquer eventualidade nesse sentido. Tanto no que diz respeito ao apoio com as sementes, como no combate às pragas se porventura vierem a surgir.

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